Monday, February 21, 2011

Interioridade: Problema pode ser ultrapassado com dinâmicas locais e visão estratégica face à Europa

Guarda, 17 de Abril de 2008 (Lusa) - O problema da interioridade que afecta algumas regiões de Portugal poderá ser ultrapassado com novas dinâmicas locais e com uma visão estratégica face à Europa, disse hoje à Lusa o professor universitário Fernando de Matos.

Segundo o docente da Universidade da Beira Interior (UBI), especializado em planeamento regional, o desenvolvimento das regiões do interior terá que ser apoiado pelo Governo central mas também passa pela acção dos agentes locais.
Numa altura em que a interioridade vai ser debatida na Guarda, com a realização de um seminário, sábado, organizado pela Comissão Política Distrital do PSD, Fernando de Matos defende que "o desenvolvimento tem que ser endógeno, tem que ser apoiado por forças externas, pelo Governo central, mas muito do desenvolvimento passa por agentes locais, autarquias, associações, cidadãos que encontrem estratégias e campos para dinamizarem este processo".
Fernando de Matos considera também que em Portugal "não se valoriza o território" quando, em sua opinião, "o interior pode ter uma nova centralidade numa Europa integrada".
"Só que, esta visão, não tem passado e temos um país bipolar", lamenta Fernando de Matos, indicando que "o interior está a ser penalizado pela sua localização geográfica, por estar longe do poder".
Este professor considera ainda que "o peso da interioridade tem sido enorme no sentido em que as políticas públicas de desenvolvimento regional e macroeconómicas têm privilegiado a zona do litoral e o interior tem visto os seus recursos humanos emigrarem para o litoral".
O professor da UBI que pertence à direcção da Planicôa - Cooperativa de Planeamento e Desenvolvimento Rural, Local e Regional, sedeada na Guarda, indica que a questão da interioridade "tem um peso enorme nas questões do desenvolvimento" porque "não havendo pessoas, não há produtividade".
Fernando de Matos aponta o exemplo deste distrito como sendo "estratégico" no contexto europeu.
O universitário salienta que é "cortado" pela auto-estrada A-25 (liga o litoral à Europa), pela A-23 (ligação Norte/Sul) e pelas Linhas do Caminho-de-Ferro da Beira Alta (acesso à Europa) e Beira Baixa.

"Estrategicamente, em termos de pontos de comunicação, a Guarda podia ser um centro logístico, uma plataforma giratória. A Guarda ganha uma centralidade terrível só que é necessário transformar esta potencialidade numa realidade", defendeu.
Para combater o estigma da interioridade, o responsável considera que são precisos "agentes económicos e políticas públicas que coloquem a Guarda na nova centralidade".
"Não estamos num beco sem saída, temos derrotas e sucessos, temos a A25, a A23, a Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial, indústrias e empresas, o distrito não é um deserto, é uma zona de baixa densidade mas temos de valorizar esses aspectos positivos", salienta à Lusa.
O presidente da Assembleia Distrital da Guarda, João Mourato, defendeu também que o "fenómeno" da interioridade "tem prejudicado o distrito".
"Todos os Governos têm acentuado de forma bastante veemente os investimentos e têm sacrificado as populações do interior a nível económico, das acessibilidades e dos investimentos do Estado", denuncia.
O autarca disse à Lusa que "o interior tem sido vítima de medidas que têm lesado as pessoas", dando o exemplo dos centros de saúde que "estão com a corda na garganta para encerrarem depois da meia-noite".
"Neste momento não há investimentos no interior e as esperanças no novo Quadro Comunitário de Apoio estão a esfumar-se em cada dia que passa", referiu o social-democrata que preside à Câmara Municipal de Mêda.
O problema da interioridade também preocupa o bispo da Diocese da Guarda, que em declarações hoje à Lusa, afirmou que "interioridade está a ser sinónimo de desertificação e abandono".
O prelado diocesano diz acreditar "na capacidade criativa e inovadora" das políticas da administração central e local "para travarem este processo e darem nova esperança às populações que apostam em continuar no nosso interior".
O Bispo da Guarda salienta ainda que a região possui muitas capacidades endógenas "quer em meios humanos quer em potencialidades naturais".
Sé Catedral da Guarda

"Há que saber identificá-las e criar as necessárias condições para que, sobretudo a partir de iniciativas empresariais centradas no potencial humano das nossas populações mais jovens, voltemos a colocar no mapa as nossas terras e a nossa região", defendeu.
ASR.
Lusa



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